Declaração de amor ao Carnaval
Ah, o Carnaval!
A única regra é ir atrás do bloco.
Ou do lado do bloco, ou na frente, ou onde você conseguir um lugarzinho para se enfiar.
E no bloco não se usa gravata, não se bate o ponto.
Para ficar junto da orquestra, não é preciso pegar senha nem ficar atrás da linha amarela.
Não precisa pagar entrada nem segurar o mamãe-sacode (não no Recife!).
A catraca não existe. Lugar marcado? Nem pensar.
O Carnaval não tem farda nem crachá.
O Carnaval é anarquista, graças a Deus.
No topo da pirâmide hierárquica, só o cabra que segura o estandarte (que só tem essa regalia porque o negócio é pesado e o coitado merece um espacinho maior).
No mais, é uma organização libertária!
Não, não é um caos.
É desordenadamente feliz!
Desorganizadamente democrático.
O Carnaval não é doutrina, não é religião. É um estado de espírito.
Talvez você, que nunca subiu uma ladeira atrás do EU ACHO É POUCO, nem ido a prévia do AMANTES DE GLÓRIA, não entenda!
O Carnaval não vem de fora para dentro, seu Zé.
Ele vem de dentro para fora!
E só acontece uma vez por ano.
E só uma vez por ano você pode esquecer que o seu salário é mínimo, que seu prefeito é louco e que a sua senha é a número 354.
No carnaval você ó o rei. Ou o índio ou o palhaço.
No carnaval você é feliz!
Eu sou filha do Carnaval! Alias, todos aqui em casa.
Nove meses depois da festa, nascia um!
Talvez, justamente por isso, eu moro dentro do carnaval e ele dentro de mim.
É como meu fígado, meu estômago, meu esôfago.
Na aula de ciências, tenho quase certeza que a professora explicou que ele fica por ali, entre o coração e o pulmão.
E, como uma pessoa consciente da necessidade de Carnaval neste mundo, já até fiz meu registro:
“Declaro, para os devidos fins, que na pós-morte, passo à condição de doadora dos órgãos vitais. Assim sendo, podem doar minhas córneas, meu pâncreas e meu Carnaval!”.
Acho que um sujeito que nasceu em Curitiba, Brasília ou no Acre, poderá fazer bom uso do meu Carnaval depois que eu me for.
E por que eu estou falando de Carnaval em Janeiro?
Por que aqui já começou!
Bora?
Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos
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