Delta Construções admite fim do negócio com J&F Holding
Thiago Herdy e Gustavo Uribe, O Globo
Na noite desta sexta-feira, a Delta — maior detentora de contratos com o PAC, com cem contratos ativos com o governo federal que somam R$3,4 bilhões, e que está sendo auditada pela Controladoria Geral da União — reconheceu o fim do negócio com a J&F Holding e divulgou nota informando não ter havido consenso para o fechamento da operação de compra e venda.
No texto, a empresa ressaltou que “aplicará todos os seus esforços para cumprir os compromissos assumidos” e afirmou a intenção de preservar os cerca de 30 mil empregos em suas obras e projetos.
— Nada mais danoso num negócio do que crise de confiança. Porque crise de confiança, o dinheiro não resolve. Como você vai convencer um funcionário a trabalhar na Delta hoje? Como vai contratar um bom engenheiro para uma obra? — diz Joesley Batista, presidente da J&F Holding.
Apesar de danoso para a Delta, o empresário classifica como “legítimo” o debate sobre a empresa na CPI. A equipe montada para analisar as contas da construtura já havia detectado queda de cerca de 30% no fluxo de faturamento mensal da empresa, que girava em torno de R$ 200 milhões. O atraso no pagamento de contratantes em função da crise é a principal razão.
— A Delta vai ter de fazer controle bem mais rígido de caixa. Não vai conseguir manter obras em funcionamento sem que o fluxo de pagamentos esteja em dia. Em tempos passados, talvez até conseguisse, o mercado dava mais crédito a ela — diz o empresário.
Joesley nega ter recebido qualquer indicação do governo a respeito da manutenção de contratos com a construtora. Alega que a decisão foi baseada estritamente em análise econômica e financeira, e no fato de o “mercado, como um todo, começar a questionar a capacidade da empresa se reerguer”.
— Pior do que a idoneidade ou a inidoneidade, é uma empresa com crise de credibilidade e de confiança por muito tempo. A empresa vai ter de mudar radicalmente o modus operandi dela, senão não sobrevive — disse Joesley, que admite manter o interesse em atuar no setor de infraestrutura e, por isso, já estaria analisando a hipótese de aquisição de outras três empresas.
A principal empresa da J&F é a JBS, maior empresa em processamento de proteína animal do mundo, que atua na área de alimentos, couro, biodiesel, colágeno e latas. O grupo também administra um banco, uma empresa de higiene e limpeza, e outra de papel e celulose. O executivo da J&F nomeado para presidir a Delta, Humberto Junqueira de Farias, permanecerá na holding mesmo após a desistência do negócio.
Joesley nega que a quebra do sigilo bancário e fiscal da Delta pela CPI do Cachoeira seja o elemento mais importante da decisão de deixar o negócio:
— O sigilo nacional quebrado, em si, não é o ponto. O ponto é a prolongação do que isso significa. Significa ela se manter sob suspeita por mais quantos meses, né? Não sei quantos meses vai ficar.
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