Jovens e negros pedem um basta contra a violência
Mais de 50 entidades foram à
Assembleia Legislativa (24) pedir um basta contra o que chamaram de verdadeira
“matança” contra os jovens e negros do RN, referindo-se aos crescentes índices
de violência. Na Audiência Pública proposta pelo deputado Fernando Mineiro (PT)
as entidades entregaram uma carta de reivindicações à secretária nacional de
Juventude, Severine Carmem Macedo, clamando, entre outras, por sérias reformas
estruturais e por políticas de incentivo à integração social que garantam o
esporte, o lazer, a cultura e sua própria integração com a
comunidade.
A carta foi fruto das
plenárias e debates que antecederam a audiência de hoje. Antes de receber as
reivindicações, a representante do governo Dilma Roussef apresentou o Plano de
Prevenção à Violência Contra
a Juventude Negra, outro objetivo da audiência pública, executado sob a
coordenação da Secretaria Nacional de Juventude, da Secretaria-Geral da
Presidência da República e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (Seppir).Natal está em
23º lugar no índice nacional de violência contra a juventude negra. O perfil
onde ocorrem mais mortes é de jovens, negros e do sexo masculino.
Mineiro criticou a ausência de
representantes do Ministério Público do RN e do setor de segurança do Estado e
avaliou o encontro:“Temos
acompanhado os índices preocupantes, atingindo particularmente a juventude
negra, que vive nas periferias e a indiferença da sociedade com o extermínio dos
nossos jovens. Essas instituições não vieram nem mandaram um representante, mas
queremos que se envolvam, porque só com esses segmentos aqui presentes não tem
como implementar o plano. Mas mostramos a força e a garra de quem trabalha e
precisamos de uma resposta do governo”, disse.
O Plenarinho da Casa estava lotado,
principalmente de entidades e jovens oriundos dos bairros onde o problema é mais
grave: Vila de Ponta Negra, Mãe Luiz, Cidade Nova, Guarapes e Felipe Camarão. A
campanha pela redução da maioridade penal, tema predominante nas explanações,
foi duramente criticada pela maioria. “A questão do extermínio tem cor e classe.
Então quando pedem redução penal, a gente sabe onde eles querem chegar, em quais
bairros e em quais casas. A resposta não é simplesmente abrir unidades
sócio-educativas. Temos que garantir, por exemplo, a saúde, a educação dignas e
o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente”, alertou Tomásia Usabk,
do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente. Shirlene Santos, do
Observatório Infanto Juvenil em Contextos de Violência, questionou: “A quem
interessa a morte desses meninos“?
Protesto
As dezenas de instituições foram ao
plenarinho da Casa denunciar o extermínio da juventude, notadamente entre os
negros e moradores da periferia e entregar a Carta de Natal, fruto das plenárias
preparatórias que vinham sendo realizadas em diversos bairros de Natal e do
interior do RN. Poemas, raps e outras formas de protesto, clamando por políticas
públicas efetivas, marcaram o debate.
Em Natal as “rodas de diálogos” que
antecederam a audiência de hoje, aconteceram desde o dia 19 de março em Nossa
Senhora da Apresentação, Vila de Ponta Negra, Mãe Luiza, Guarapes e Felipe
Camarão e fora da capital as reuniões ocorreram em Parnamirim, Macaíba, São
Gonçalo e Mossoró.
Mapa
Segundo levantamento do Mapa da Violência
no Brasil mais recente, em 30 anos, de 1980 a 2010 os números cresceram 346,5% e
entre os jovens esse crescimento foi de 414,0%. Também os homicídios jovens
cresceram de forma mais acelerada: na população como um todo foi de 502,8%, mas
entre os jovens o aumento foi de 591,5%. No RN, Natal, Mossoró e Parnamirim são
as campeãs da violência.
“Fiquei animada com o compromisso e as
intervenções extremamente qualificadas aqui. Estamos construindo um diálogo com
o estado e com as prefeituras. Toda a nossa luta é por direitos a mais e não
direitos a menos. Não podemos penalizar as comunidades que já são mais
impactadas historicamente”, disse Severine.
A própria subsecretária de Juventude do
RN, Tatiana Pires, negra e de origem humilde, relatou sua experiência:
“Ser negro e pobre não é nada
fácil, sempre estudei em escola pública e moro em Areia Preta”. Segundo ela, o
governo está enfrentando dificuldades com os municípios para implementar as
políticas públicas e ainda está coletando dados, mas se colocou à disposição das
entidades para auxílio no que for preciso.
Também estiveram presentes ao debate as
deputadas Márcia Maia e Larissa Rosado (PSB) e o vereador de Mossoró Laíre
Rosado; o coordenador geral da Posse de Hip Hop Ledo Melodia, entre outros
representantes das entidades ligadas ao tema.
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