Mauricio Dias: O mensalão tucano está ligado ao processo eleitoral nacional e à reeleição de FHC
por Mauricio Dias, em CartaCapital
Em breve, como se espera, o Supremo Tribunal Federal, após o julgamento
do chamado “mensalão petista”, se encarregará do Inquérito 3.530,
conhecido, mas ainda não popularizado, como mensalão tucano, igualmente
originado em Minas Gerais e até agora ainda sob a relatoria do ministro
Joaquim Barbosa, que assumirá a presidência do STF em novembro, pelo
princípio do rodízio. Não se sabe se abrirá mão da tarefa.
Provavelmente, sim.
O mensalão tucano, e não mineiro, como às vezes se diz e se escreve, ora
por descuido e, principalmente, por má-fé, montado a partir de Belo
Horizonte, em 1998, para a reeleição do então governador mineiro Eduardo
Azeredo, está intimamente ligado ao processo eleitoral nacional e, por
consequência, à reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Marcos Valério, o publicitário, ou operador financeiro, como é
caracterizado, passou a ser o fio condutor de todo esse moderno processo
de formação de caixa 2 que ainda norteou, em 2002, a primeira eleição
de Aécio Neves para o governo de Minas Gerais (na revista ilustração da
lista de Furnas). O dinheiro gerado em Minas se espalhava pelo País.
Nada pode ser entendido e for descartado, por exemplo, o livro “O Voo do
Tucano”, do deputado petista Durval Ângelo, publicado em 1999.
Praticamente circunscrito ao fechado mundo mineiro, onde tudo acontece e
nada transpira, a obra ganhou alguma notoriedade na CPI dos Correios
(2005), após as denúncias de Roberto Jefferson.
Valério era somente consultor financeiro quando se envolveu no processo
de salvação da empresa de publicidade SMP&B. Por intermédio dele, o
hoje senador Clésio Andrade aportou recursos na agência. Integrante,
como vice, da chapa de Aécio Neves, ele repassou as ações para Valério
numa operação cuja legalidade é discutida.
A sequência dessa história, que passa pela famosa Lista de Furnas, que a
mídia tentou desqualificar, é conhecida e comprovada pelo advogado Dino
Miraglia Filho, uma voz sem repercussão em Belo Horizonte.
Miraglia se ofereceu como assistente do Ministério Público na ação do
mensalão tucano. Ele articula a esse processo a figura controvertida de
Nilton Antônio Monteiro e a complexa história do assassinato de uma
modelo que transitava com desenvoltura pelos caminhos abertos pela elite
política e empresarial de Belo Horizonte.
Miraglia é uma acusador implacável e que não usa meias palavras quando
trata do que chama de “crimes de corrupção praticados pelos ocupantes do
governo de Minas desde 1987 e que perduram até hoje”. Ele não sonega
nomes: Eduardo Azeredo, hoje deputado, ex-governador de Minas, e Dimas
Toledo, ex-presidente de Furnas, ambos envolvidos na construção de caixa
2 na campanha de Aécio Neves.
“Diante da robustez das provas e após perícias que comprovaram serem
autênticos os documentos apresentados por Monteiro, o grupo criminoso
montou um riquíssimo esquema jurídico e midiático para desacreditá-lo
perante a opinião pública”, argumenta.
Miraglia tem em seu poder “muitos originais” aguardando a intimação do
STF para depositar no cofre da secretaria, especialmente o documento
aqui reproduzido parcialmente. Os tucanos, na ausência de barba, devem
botar o bico de molho.
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