Mumunha papagerimum
Por François Silvestre
Ainda hoje não se explicou convincentemente a mumunha da “paz
pública” que os acólitos da Ditadura montaram no Rio Grande do Norte,
em 1978, cooptando ex-perseguidos.
Antes dessa, houve outra também sem explicação. Numa visita que
me fez, em Cajuais da Serra, o escritor Francisco Rodrigues, das
“Folhas de Outono”, me questionou sobre tal evento.
Deu-se por conta da morte do Senador João Câmara, em 1948,
candidato natural ao Governo, pelo PSD, nas eleições de 1950. A morte
do político de Baixa Verde produziu dois fatos relevantes para alterar o
quadro político de então.
O primeiro foi o lugar da própria vaga no Senado, que deveria
caber ao suplente eleito, na sua chapa, Antônio Fernandes Dantas. O
segundo foi a ocupação de sua candidatura ao governo, substituída pela
indicação dissidente de Dix-Sept Rosado.
Na época, tanto os vices quanto os suplentes eram eleitos
desvinculados dos titulares. Poderia ser eleito o candidato de um
partido com o vice ou suplente de outra legenda.
Nas eleições de 1947, para o Senado, cá na vazante, foram
candidatos João Câmara, pelo PSD; e Juvenal Lamartine, pela UDN e PSP.
João Câmara saiu vitorioso. Para a suplência disputaram, dentre outros,
Antônio Fernandes Dantas, na chapa de Câmara, e Kerginaldo Cavalcanti,
na chapa de Lamartine. Venceu o candidato de João Câmara.
Aí a mumunha se armou. Com o apoio do pessedista Georgino
Avelino, contra o correligionário vitorioso, foi argüido o impedimento
de Dantas, sob a alegação de erros formais no registro da sua
candidatura. Qualquer curioso do Direito sabe que esse argumento é
falso, dada a natureza preclusiva do Processo Eleitoral.
Impedimento, sem anulação dos votos, e posse do suplente da chapa
derrotada, que era Kerginaldo Cavalcanti. Sem julgamento do mérito até
as eleições de 1950, quando Kerginaldo Cavalcanti derrotou Dinarte
Mariz, legitimando o mandato.
Outra mumunha foi o acordo de cúpula que envolveu Aluízio Alves e
Tarcisio Maia, sob a batuta de Golbery, com o General Albuquerque
Lima, a UEB, Dow Chemical, o MDB, Jessé Freire e muita grana em dólar,
numa jogada político-empresarial, que fazia parte de um esquema de
transição negociada. Negociada com negociatas.
Aqui, a Arena humilhou a resistência democrática, pondo o MDB no pelourinho.
Cobrei de Aluízio Alves, ele desconversou e não convenceu.
Geraldo Melo riu e mandou me servir uísque. Roberto varela foi ferino:
“Olha, guerrilheiro, foram duas maracutaias”.
O MDB oficial ladinou-se e virou PMDB. O seu quinhão autêntico,
com Odilon Ribeiro Coutinho e Roberto Furtado, desmanchou-se nas brumas
da luta. A liberdade hoje é apenas uma meretriz desempregada, a vender
o que se tem de graça, nas igrejas e nas praças.
Té mais.
François Silvestre é escritor
* Texto originalmente publicado no Novo Jornal (Natal)
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