Mesmo doente, idoso deixa de pagar plano de saúde para fazer faculdade
João Dias, de 69 anos, está se formando em direito, em Rio Verde,
GO.
Para realizar o sonho e pagar a universidade, ele também vendeu o carro.
Para realizar o sonho e pagar a universidade, ele também vendeu o carro.
O aposentado João Gonzaga Dias, de 69 anos, está se
tornando exemplo de força de vontade para a família e para os alunos de uma
universidade particular de Rio Verde, no sudoeste de Goiás.
Mesmo com problemas de saúde, como diabetes, pressão alta e até um marcapasso no
coração, ele não se entregou às dificuldades e deixou de pagar o plano de saúde
para realizar o seu grande sonho: cursar uma faculdade de direito.
Aposentado há quatro anos, João Gonzaga, que era comerciante, passa o dia em casa auxiliando a mulher nos afazeres domésticos e na confeitaria que o casal possui. Entre uma atividade e outra, ele acaba consultando e revisando os livros da faculdade.
“Eu imaginei que fosse um sonho dele no momento, mas não imaginei que ele fosse realmente fazer uma faculdade”, relata a esposa, Izamar Braz Dias.
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Para pagar o curso, que é em uma faculdade particular com taxa mensal de R$ 842, além de deixar de pagar o plano de saúde, o aposentado também vendeu o carro. Mesmo assim, não falta um dia sequer às aulas. Como está sem carro, a filha ou colegas de sala dão uma carona ao aposentado. “Às vezes, ele está passando mal, mas vai para a faculdade. A faculdade para ele é uma terapia”, diz Izamar.
Bastante orgulhoso, João se lembra das dificuldades que passou durante os cinco anos de faculdade.
Além de renunciar a alguns benefícios, o aposentado conta que teve de parar o curso por duas vezes para poder pagar a faculdade do filho: "Ou eu pagava o plano ou pagava a faculdade, ou eu pagava a faculdade do meu filho ou a minha porque as duas eu não conseguia. Tinha de priorizar. Então, preferi formá-lo primeiro. Depois, tive que fazer novo vestibular, mas não desanimei".
Exemplo
Na sala, ele é o mais velho da turma, mas é muito querido e admirado pelos colegas e professores. “Acho que ele é um exemplo para todos nós e para muitas pessoas que acham que pela idade não podem realizar um sonho antigo”, afirma a estudante Cintia Jesus de Almeida. “Ele é estudioso, assíduo e dedicado não só dentro da sala, mas nas atividades extraclasse também”, comenta o professor Whaslen Fagundes.
Mas tem um amigo que é especial para João. O estudante Fabrício Lamas foi quem teve a ideia de contar a vida do amigo para a imprensa. “Esse exemplo deveria ser divulgado mais adiante. Tantas pessoas novas que podem estar estudando, mas dizem que não vão porque não vai dar certo e está velho, e o João não tem nada de velho. Ele é mais novo que todo mundo aqui junto e está dando exemplo para todo mundo”, diz Fabrício.
Em sala de aula, colegas admiram a força de vontade
do aposentado
(Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)
O aposentado agradece o apoio dos colegas de sala: “Eles têm me ajudado muito na faculdade e em todos os setores. Para mim, é um orgulho tê-los como amigos”.
Após 40 anos sem frequentar uma instituição escolar, João Gonzaga admite a dificuldade, mas garante que está feliz com o sonho realizado: “Na minha idade não é fácil. É preciso ter muita persistência para concluir o curso”. O entusiasmo do aluno contagia toda a equipe escolar. A coordenadora do curso, Helena Maria Campos, conta que a força de vontade sempre esteve presente no aposentado desde o início do curso.
“Ele sempre foi assim, muito atencioso, comprometido, assíduo. Então, realmente, ele é um exemplo de aluno para os colegas”, relata Helena Maria.
“Para nós, que já estamos na terceira idade, chegar em uma faculdade como o João não é fácil. É como se fosse um exemplo para todos nós, principalmente para os colegas mais jovens e também para as pessoas que estão nessa idade e pensam que o mundo acabou, a vida acabou. Então, é o momento de recomeçar, a vida é sempre um começo”, diz a diretora acadêmica da instituição, Stefane Barbosa.
A formatura do aposentado João Gonzaga Dias está marcada para o dia 2 de março deste ano. Para ele, o sonho não acabou. Agora, o aposentado quer atuar na profissão. Já até iniciou a construção de um escritório em casa e está estudando para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
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