O Papa Bento XVI prometeu nesta quinta-feira (28) "incondicional reverência e
obediência" ao seu sucessor, ao falar brevemente no seu encontro de despedida
com os cardeais, no Vaticano, no dia de sua histórica renúncia.
"Continuarei próximo a vocês em oração, especialmente nos próximos dias, em
que elegem o novo Papa, ao qual hoje declaro incondicionais reverência e
obediência", disse.
Bento XVI também apelou para que a Igreja Católica permaneça unida.
O Papa destacou a proximidade, a solidariedade e os conselhos que recebeu dos
cardeais em seus oito anos de pontificado.
"Nestes anos, vivemos com fé
momentos belíssimos de luz radiante no caminho da Igreja, ao lado de momentos
nos quais as nuvens se condensavam no céu. Tentamos servir a Cristo e a sua
Igreja com amor profundo e total, que é a alma de nosso Ministério",
disse.
Bento XVI afirmou ainda que o Colégio Cardinalício deve ser "como
uma orquestra, na qual a diversidade possa levar a uma harmonia de
concórdia".
"Permaneçamos unidos, queridos irmãos, nas preces e
especialmente na eucaristia. Assim servimos à Igreja e a toda à humanidade. Esta
é nossa alegria, que ninguém nos pode tirar", disse.
Bento XVI disse ainda que a Igreja não é uma "instituição inventada por
alguém, construída sobre uma mesa, mas uma realidade viva, que vive se
transformando, embora sua natureza continua sendo sempre a mesma, já que sua
natureza é Cristo".
'Gratidão'
Os cardeais, representados pelo decano do
Colégio Cardinalício, Angelo Sodano, expressaram sua "gratidão" a Bento XVI por
seus oito anos de pontificado. Sodano disse que Bento XVI foi um "exemplo".
Cerca de 144 cardeais participam do encontro, na
Sala Clementina, no
Vaticano, segundo Federido
Lombardi, porta-voz do Vaticano.
Eles receberam Bento XVI com um aplauso de despedida. Depois, os cardeais se
despediram separadamente de Bento XVI, beijando sua mão.
Alguns cardeais deram presentes ao Papa, segundo o porta-voz do Vaticano,
Federico Lombardi. Ele não detalhou quais foram os presentes.
Renúncia
A renúncia deve se tornar efetiva às 20h locais
(16h de Brasília).
Depois do encontro com cardeais, no Pátio de Saint-Damase, no coração do
Vaticano, a Guarda Suíça carregará suas bandeiras em saudação ao pontífice.
Por volta das 13h (horário de Brasília), Bento XVI irá para o heliporto para
viajar a Castel Gandolfo, que fica 25 km ao sul de Roma. Lá, ele saudará os
fiéis a partir da varanda. Esta será sua última aparição como chefe da
Igreja.
Nada de especial está previsto quando o relógio badalar oito horas da noite
(hora local), momento em que oficialmente termina o pontificado. Ele
provavelmente estará em oração na capela neste momento.
Neste horário, o pequeno destacamento da Guarda Suíça, em frente à
residência, fechará a porta e colocará assim um fim ao seu serviço, reservado
exclusivamente ao Papa. Mas a polícia vai continuar a garantir a segurança de
Sua Santidade, o Papa Emérito.
Após os dois meses na residência de verão, o Papa Emérito vai se estabelecer
em um mosteiro no Monte do Vaticano.
Última audiência pública
Em
sua última audiência pública, nesta quarta-feira (27), Bento XVI disse que
tem "grande confiança" no futuro da Igreja Católica e afirmou que seu papado
teve "águas agitadas"
Milhares de fiéis se reuniram na Praça de São Pedro, no Vaticano, para
assistir à última audiência pública do pontificado de Bento XVI.
Falando à multidão, Bento XVI afirmou que seu papado, iniciado em abril de
2005, teve alegrias, mas também muitas dificuldades. O pontífice disse que
enfrentou "águas agitadas e vento contrário".
"O Senhor nos deu muitos dias de sol e ligeira brisa, dias nos quais a pesca
foi abundante, mas também momentos nos quais as águas estiveram muito agitadas e
o vento contrário, como em toda a história da Igreja e o Senhor parecia dormir",
disse.
Mas ele afirmou ter fé em que Deus não vai deixar a Igreja "afundar".
Assista ao lado ao resumo em português da fala de Bento XVI
"Estou realmente emocionado e vejo uma Igreja viva", disse o Papa, sempre
bastante aplaudido pela multidão.
Ele voltou a afirmar que sua renúncia, anunciada de maneira surpreendente em
11 de fevereiro, foi decidida "não para seu bem, mas para o bem da Igreja", e
reiterou que sabe "da gravidade e da novidade" da decisão que tomou.
"Amar a Igreja significa também ter a valentia de tomar decisões difíceis,
tendo sempre presente o bem da Igreja, e não o de si próprio", disse.
O pontífice, de 85 anos, afirmou que "não vai abandonar a Cruz" e que, pela
oração, vai continuar a serviço da Igreja.
Conclave
No dia seguinte à renúncia, o cardeal Angelo
Sodano enviará os convites aos cardeais eleitores -- atualmente 115 -- para as
"congregações gerais" que precedem o conclave, a reunião secreta que escolhe o
sucessor de Bento XVI.
Essas reuniões, durante as quais os prelados procuram definir o perfil do
futuro Papa, não devem começar antes de segunda-feira.
Nas últimas semanas, os cardeais já começaram, por e-mail e por telefone, as
consultas informais para decidir o nome.
Fiéis durante a última audiência papal, nesta
quarta-feira (27), na Praça de São Pedro, no Vaticano (Foto: Juliana
Cardilli/G1)