terça-feira, 26 de junho de 2012

OEA se reúne para definir medidas após saída de Lugo no Paraguai

EUA acenaram com adotar posições tomadas por organização.

Na sexta (29), Unasul e Mercosul também debatem crise no país.


Amauri Arrais Do G1, em Assunção (*)


A Organização dos Estados Americanos (OEA) se reúne nesta terça-feira (26) para estudar eventuais medidas diante dos acontecimentos no Paraguai, depois que o Congresso destituiu Fernando Lugo da presidência na última sexta.
Segundo o comunicado divulgado na segunda pela organização, a OEA debaterá "a situação na República do Paraguai e, caso necessário, tomará as decisões que o Conselho Permanente acordar. A reunião, em Washington, ocorre às 15h30 de Brasília.

A decisão tomada pelo órgão ganhou peso após a porta-voz do Departamento de Estados dos EUA afirmar que o país adotará a resolução tomada pelo conselho permanente da OEA sobre o Paraguai.
O Estados Unidos se declararam na segunda “bastante preocupados” com a rapidez do julgamento político que destituiu o presidente Fernando Lugo, disse a porta-voz, segundo a qual a secretária de Estado, Hillary Clinton, conversou com seu par brasileiro, Antonio Patriota, durante o fim de semana sobre a situação paraguaia

A OEA realizou uma primeira reunião de emergência na sexta-feira sobre os acontecimentos no país, que serviu para que os países da organização hemisférica apresentassem suas dúvidas sobre o processo político.
O secretário-geral da organização, José Miguel Insulza, assegurou nesta segunda o organismo não tem atribuições para intervir no Paraguai.

"Ninguém tem atribuição para intervir", disse em entrevista à chilena "Rádio Infinita".

"Quando a OEA age, é principalmente para tentar resolver os conflitos pondo às partes de acordo, inclusive no caso de Honduras, que foi um golpe de Estado", explicou Insulza.

Unasul e Mercosul

Esta será a primeira das três reuniões de organizações internacionais para discutir a situação no país.
Também na segunda, a Unasul (União das Nações Sul-americanas) decidiu remarcar para a sexta-feira (29), na cidade argentina de Mendonza, sua reunião para discutir o caso Paraguai.

Segundo a chancelaria do Peru, país que sediaria o encontro na quarta, a intenção é que a reunião coincida com a Cúpula do Mercosul, já marcada para Mendonza nesta data, para aproveitar a presença dos chefes de Estado na cidade.

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Presidentes dos dois grupos diplomáticos devem discutir uma posição sul-americana conjunta sobre o impeachment do presidente Fernando Lugo e a consequente posse de Federico Franco no governo paraguaio.
O rápido julgamento político de Lugo levou o Paraguai a um crescente isolamento diplomático na região, com a sua suspensão de encontros tanto do Mercosul como da Unasul.

O presidente afastado Lugo, no entanto, afirmou estar em contato com a presidente argentina Cristina Kirchner, que ocupa a presidência temporária do Mercosul, para ir à reunião do bloco "prestar explicações" sobre a situação.

O julgamento político sumário que destituiu Lugo na sexta-feira, alçando à presidência o então vice-presidente Federico Franco, recebeu uma forte condenação dos países do continente, muitos dos quais anunciaram que não reconhecerão o novo governo.

Crise no Paraguai

Federico Franco assumiu o governo do Paraguai na sexta-feira (22), após o impeachment de Fernando Lugo. O processo contra Lugo foi iniciado por conta do conflito agrário que terminou com 17 mortos no interior do país.

A oposição acusou Lugo de ter agido mal no caso e de estar governando de maneira "imprópria, negligente e irresponsável".

Ele também foi acusado por outros incidentes ocorridos durante o seu governo, como ter apoiado um motim de jovens socialistas em um complexo das Forças Armadas e não ter atuado de forma decisiva no combate ao pequeno grupo armado Exército do Povo Paraguaio, responsável por assassinatos e sequestros durante a última década, a maior partes deles antes mesmo de Lugo tomar posse.
O processo de impeachment aconteceu rapidamente, depois que o Partido Liberal Radical Autêntico, do então vice-presidente Franco, retirou seu apoio à coalizão do presidente socialista.

A votação, na Câmara, aconteceu no dia 21 de junho, resultando na aprovação por 76 votos a 1 – até mesmo parlamentares que integravam partidos da coalizão do governo votaram contra Lugo. No mesmo dia, à tarde, o Senado definiu as regras do processo.

Na sexta, o Senado do Paraguai afastou Fernando Lugo da presidência. O placar pela condenação e pelo impeachment do socialista foi de 39 senadores contra 4, com 2 abstenções. Federico Franco assumiu a presidência pouco mais de uma hora e meia depois do impeachment de Lugo.
Em discurso após o impeachment, Lugo afirmou que aceitava a decisão do Senado.

Mas, neste domingo, Lugo voltou atrás, aumentou o tom disse que não reconhece o governo de Federico Franco e que não deve, portanto, aceitar o pedido do novo presidente para ajudá-lo na tarefa de explicar a mudança de governo a países vizinhos.

Isolamento

O analista político José Carlos Rodríguez, um consultor em Assunção, disse à Reuters que, apesar do isolamento internacional, o apoio das forças políticas locais a Franco é amplo, mas advertiu que o cenário interno pode mudar.

Franco "tem um apoio político gigantesco, mas é conjuntural e não sabemos quanto tempo vai durar", disse.

O novo governo de um dos países mais pobres da América do Sul está isolado regionalmente, depois que Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Venezuela, Peru e Uruguai retiraram ou chamaram para consultas seus embaixadores em Assunção.

A pressão da região é bastante perigosa para a pobre economia do Paraguai, que depende dos portos de seus vizinhos Argentina, Brasil e Uruguai para o transporte e o abastecimento, além das exportações.

O governo brasileiro disse que não tomará medidas que "afetem o povo irmão paraguaio".

O Uruguai também afirmou que não adotará sanções econômicas.

A Venezuela anunciou a interrupção do envio de petróleo ao Paraguai, mas o presidente da estatal paraguaia Petropar garantiu o abastecimento no país, um importador.

O novo chanceler paraguaio, José Félix Fernández Estigarribia, que tentou sem sucesso fazer contato com seus pares da região, disse que nem sequer o diplomata responsável pela embaixada da Argentina em Assunção o atendeu pelo telefone.

"Telefonei ao encarregado de negócios da Argentina e eles têm ordens de ainda não atender ao telefone", disse.

A Alemanha afirmou que a Europa estava seguindo com preocupação os acontecimentos no Paraguai.

Os Estados Unidos, por sua vez, informaram que a sua secretária de Estado, Hillary Clinton, conversou com o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, no fim de semana sobre a situação.

"Estamos muito preocupados pela velocidade do processo utilizado para esse impeachment", disse em entrevista coletiva a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland.

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