terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Declaração de amor ao Carnaval

 


Ah, o Carnaval!

A única regra é ir atrás do bloco.

Ou do lado do bloco, ou na frente, ou onde você conseguir um lugarzinho para se enfiar.

E no bloco não se usa gravata, não se bate o ponto.

Para ficar junto da orquestra, não é preciso pegar senha nem ficar atrás da linha amarela.

Não precisa pagar entrada nem segurar o mamãe-sacode (não no Recife!).

A catraca não existe. Lugar marcado? Nem pensar.

O Carnaval não tem farda nem crachá.

O Carnaval é anarquista, graças a Deus.

No topo da pirâmide hierárquica, só o cabra que segura o estandarte (que só tem essa regalia porque o negócio é pesado e o coitado merece um espacinho maior).

No mais, é uma organização libertária!

Não, não é um caos.

É desordenadamente feliz!

Desorganizadamente democrático.

O Carnaval não é doutrina, não é religião. É um estado de espírito.

Talvez você, que nunca subiu uma ladeira atrás do EU ACHO É POUCO, nem ido a prévia do AMANTES DE GLÓRIA, não entenda!

O Carnaval não vem de fora para dentro, seu Zé.

Ele vem de dentro para fora!

E só acontece uma vez por ano.

E só uma vez por ano você pode esquecer que o seu salário é mínimo, que seu prefeito é louco e que a sua senha é a número 354.

No carnaval você ó o rei. Ou o índio ou o palhaço.

No carnaval você é feliz!

Eu sou filha do Carnaval! Alias, todos aqui em casa.

Nove meses depois da festa, nascia um!

Talvez, justamente por isso, eu moro dentro do carnaval e ele dentro de mim.

É como meu fígado, meu estômago, meu esôfago.

Na aula de ciências, tenho quase certeza que a professora explicou que ele fica por ali, entre o coração e o pulmão.

E, como uma pessoa consciente da necessidade de Carnaval neste mundo, já até fiz meu registro:

“Declaro, para os devidos fins, que na pós-morte, passo à condição de doadora dos órgãos vitais. Assim sendo, podem doar minhas córneas, meu pâncreas e meu Carnaval!”.

Acho que um sujeito que nasceu em Curitiba, Brasília ou no Acre, poderá fazer bom uso do meu Carnaval depois que eu me for.

E por que eu estou falando de Carnaval em Janeiro?

Por que aqui já começou!

Bora?



Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos

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