sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O uso político do combate ao crack



Há uma semana, tratei da desastrada operação que os governos estadual e municipal de São Paulo deflagraram contra o crack. Terminei meu texto ressaltando a importância de salvar a ação pela via da articulação de esforços com o governo federal e do afastamento das disputas políticas em torno de uma questão que corrói a sociedade —é de todos, portanto.

Mas os tucanos conseguiram fazer a própria imprensa, que tanto os apóia, denunciar o uso eleitoral da questão.

Numa mostra do desespero que os assola, os tucanos paulistas passaram a buscar os responsáveis pelo caos que instalaram no entorno da região da cracolândia, principalmente porque fizeram uma operação só de repressão, sem trabalho preventivo ou tratamentos de saúde.

Os erros da operação foram tão grosseiros que o tema dominou o debate realizado pelos quatro pré-candidatos do PSDB à prefeitura da capital. Um deles vinculou o PT à disseminação do crack; outro acusou o governo federal de não prestar assistência do SUS (Sistema Único de Saúde) aos dependentes químicos. Foi estarrecedor.

Especialmente porque os tucanos governam o Estado de São Paulo há quase duas décadas!

Se contarmos o governo de Franco Montoro, eleito em 1982, quando os políticos que fundaram o PSDB ainda estavam todos no PMDB, são 30 anos de administração estadual. Não faz o menor sentido, portanto, culpar o PT pelo problema porque governou a cidade entre 2001 e 2004, com a prefeita Marta Suplicy, e de 1989 a1992 com Luiza Erundina.

Mesmo os governos Orestes Quércia (1987-1990) e Luiz Antônio Fleury Filho (1991-1994) fazem parte do acervo tucano. Afinal, participaram desses governos expoentes tucanos —entre eles, o agora senador Aloysio Nunes. E Quércia foi eleito pelo governo Montoro, compondo uma linhagem sucessória que desemboca na série de gestões tucanas.

Além disso, o ex-governador José Serra, na campanha presidencial de 2010, vendeu aos brasileiros a ideia de que realizou um programa de construção de centros de ajuda a dependentes químicos. Mas se descobriu que não existiam. Justamente uma das causas apontadas por especialistas para considerar um desastre a operação policial na cracolândia.

Leia a íntegra em O uso político do combate ao crack



José Dirceu, 65, é advogado,ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

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