quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A eleição no Congresso e a sinceridade política, por Bruno Lima Rocha

 


Impressiona a capacidade que as elites dirigentes políticas no Brasil têm de atingir a si mesmas. Ao final do recesso de verão, nos deparamos com a provável eleição de dois peemedebistas do nordeste, ambos vinculados ao esquema de poder do ex-presidente da Arena, José Sarney.

Renan Calheiros, senador alagoano e ex-ministro da Justiça de FHC, já é figura carimbada da mídia brasileira. Dentre suas façanhas, temos o inesquecível momento de 2007, quando o país soube que parte de seus compromissos privados eram cobertos por relações pouco republicanas com empresas interessadas em compras de governo e licitações.

Já o potiguar Henrique Alves, vem se lançando como presidente da câmara baixa há cerca de seis meses, e caminha a passos largos no rumo da alternância de poder.

Marco Maia, correligionário da presidenta deve passar a vaga para o representante do partido do vice Michel Temer.

Já não cabe mais espanto algum. Ex-guerrilheiros, arenistas, quercistas e adjacências se aliaram para a tal da governabilidade, sendo que o outrora partido reformista não modificou a cultura política do Brasil e sim foi transformado – para pior – com este convívio.

Diante de um quadro destes, é necessária a reprodução dos conceitos-chave para esta análise. O fisiologismo puro e simples, retro-alimentado com o mecanismo autoritário da palavra final para líderes e vices de bancadas condiciona os parlamentares em busca de seus interesses imediatos.

Estes são, em quase cem por cento dos casos, a liberação das emendas, aberração orçamentária onde quem representa e fiscaliza termina por ordenar despesas e garantir investimentos em municípios e bases eleitorais.

De sua parte, o presidencialismo de coalizão opera no cabresto do baixo clero, liberando as emendas a conta gotas, fazendo com que prefeitos coloquem deputados federais contra a parede a cada ano.

A União concentra as verbas, não há federalismo fiscal e por tanto, temos pouca autonomia dos níveis estadual e municipal de governo. Como ensina a regra da política, concentrar recursos implica em garantir benefícios.

Se há algo de relevante nas escolhas anunciadas para presidir o Legislativo federal, este é o fator sinceridade. Uma aliança política mais habilidosa colocaria à frente figuras menos polêmicas, tendo tanto um perfil baixo como trajetórias mais tranquilas. Seria uma forma de preservar a instituição e sua imagem. Pelo visto teremos o oposto.

Os prováveis presidentes do Senado e da Câmara são a “cara da política brasileira”.



Bruno Lima Rocha é cientista político
www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com

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