quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Carros importados do Uruguai serão excluídos da alta do IPI, diz Fazenda

Medida será implementada 'no prazo mais breve possível', diz governo.

Decisão beneficia montadoras instaladas no Uruguai - Kia, Lifan e Chery.

Alexandro Martello Do G1, em Brasília

O Ministério da Fazenda informou nesta terça-feira (27) que os automóveis produzidos no Uruguai não terão o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) elevado, apesar de não possuírem o percentual mínimo de 65% de sua produção com conteúdo regional - um dos requisitos para ter o imposto menor. A decisão beneficia marcas asiáticas instaladas no Uruguai e que não têm fábricas no Brasil: a sul-coreana Kia e as chinesas Lifan e Chery.


Essas montadoras não conseguem cumprir o índice de conteúdo regional que impediria o aumento do tributo para veículos importados, mas o governo brasileiro vai considerar um acordo com o Uruguai para descartar essa exigência dos produtos vindos de lá, assim como fez com os veículos trazidos da Argentina e do México, de onde vem a maior parte dos importados.

"O Brasil comprometeu-se a adotar, no prazo mais breve possível, as medidas necessárias para que os automóveis contemplados no marco do Acordo de Complementação Econômica No 2 entre Brasil e Uruguai sejam beneficiados com a redução do IPI [em relação ao aumento de 30 pontos percentuais para os carros que contenham pré-requisitos necessários] de que trata a Medida Provisória 540", informou a Fazenda em comunicado.

A Kia produz a versão K2500 do comercial leve Bongo no Uruguai. A Chery monta no país o SUV Tiggo. E a Lifan, por meio do Grupo Effa, monta os modelos 320 e 620.

Alta do IPI

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou no último dia 15 que o governo aumentaria em 30 pontos percentuais a alíquota do IPI sobre os carros importados até dezembro de 2012. A medida passou a valer no dia seguinte.

O objetivo, segundo Mantega, é proteger os fabricantes nacionais em um momento de aumento da concorrência com os produtos importados. A previsão inicial era que a medida atingisse de 12 a 15 empresas e que metade das importações tivesse seu imposto elevado. O preço dos carros importados pode subir de 25% a 28%, informou o ministro na ocasião.

Além de isentar os veículos vindos da Argentina, México e, agora, do Uruguai, o governo também não elevará o IPI dos produtos nacionais que preencham alguns requisitos. Entre eles, que os carros tenham, no minímo, 65% de conteúdo nacional e regional, e que façam investimento tecnológico no desenvolvimento de novas tecnologias.

'Resposta conjunta'

O Ministério da Fazenda informou a decisão de isentar o Uruguai foi tomada após reunião com autoridades do país. "As autoridades dos dois países (Brasil e Uruguai) coincidiram quanto à importância de uma resposta conjunta frente aos desafios do atual cenário econômico internacional. Reiteraram, nesse sentido, o entendimento comum sobre a necessidade de preservar a estrutura produtiva e os empregos na região, em particular no setor industrial", informou o governo brasileiro.
Segundo a Fazenda, a integração produtiva das duas economias envolve o estimulo à constituição de “joint-ventures” entre empresas dos dois países. "Em particular, acordaram incentivar o aprofundamento da integração produtiva entre empresas da cadeia automotiva, com vistas à aceleração do ritmo de incorporação de conteúdo regional de automóveis e autopeças", acrescentou.

Lifan parada

O Grupo Effa informou nesta terça que parou a produção de modelos da Lifan no Uruguai e demitiu funcionários devido ao excesso de veículos da marca em estoque. Há, segundo a empresa, 3 mil carros no pátio e as atividades só serão retomadas após a normalização dos estoques, o que depende da demanda de mercado e esbarraria numa alta do IPI. No Brasil, a Lifan vendeu, de janeiro a agosto, 2.516 unidades dos dois modelos montados no Uruguai, o 320 e o 620.

De acordo com o grupo do empresário uruguaio Eduardo Effa, parte dos trabalhadores será recontratada quando a linha de montagem for restabelecida. Os carros vêm da China desmontados, no chamado sistema de CKD.

Fábricas no Brasil

Effa e Chery planejam construir fábricas no Brasil. A última inaugurou em julho passado a pedra fundamental da construção, em Jacareí (SP). A Chery já possui 12 fábricas fora do território chinês, no entanto, esta seria a primeira a produzir de fato os veículos em larga escala, e não em sistema de montagem. Mas, inicialmente, taxa de nacionalização será de 30%, diz a empresa. "Isso aumentará com o crescimento da demanda", afirmou durante a cerimônia o presidente mundial da Chery Automobile, Yin Tongyue. O investimento total previsto é de US$ 400 milhões.

Na semana passada, a Chery, por meio de seu representante no Brasil, o grupo Venko Motors, obteve liminar na Justiça do Espírito Santo para evitar por 90 dias o aumento do imposto. A montadora questionou o fato de a medida do governo ter entrado em vigor um dia após o anúncio, descumprindo prazo de 90 dias previsto em lei. Até o momento, a Chery foi a única das integrantes da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva) a entrar com uma ação contra a elevação do IPI.

Nenhum comentário:

Postar um comentário